Imagine se todas as palavras
E dialetos se tornassem inúteis
Não poderiam mais estas larvas
Corroerem a carne dos seres fúteis
Se todo verso se tornasse prosa
Toda retórica aniquilada fosse
Seria do léxico a verdadeira tosa
E levaria embora a riqueza que trouxe
Se toda canção se tornasse fel
Todo o farfalhar em quietude
Não mais pássaros se veriam no céu
E acabaria com toda espontânea atitude
Mas na alma do poeta há canção
Há flores, paixão, amor, louvor
O suficiente para alegrar o coração
Até do envolto no mais profundo torpor